Sou amante de café. Não mais dos fortes, por questões de estômago. Mas somente o cheirinho já me faz abrir sorriso.
Uma vez fui a um restaurante fofo na serra e depois do almoço pedi um café. "Amigo, que café maravilhoso é esse, próprio? Delícia!" e o garçon: "É pilão." Mas continuou, ao ver minha expressão de "o que mais?": "É que nós coamos no coador de pano."
Isso já tem mais de três anos e desde então adotei o coador de pano na cozinha. Ele guarda um gostinho do café anterior e com isso, a tradicional percepção de que "panela velha é que faz comida boa".
Mas requer cuidados. Não dá pra lavar com sabão. Nem guardá-los próximos, um ao outro. Nem deixá-lo molhado em lugar fechado.
Requer cuidados de manutenção. São as condições, para que eu tenha o prazer de tomar aquele café de manhã, com aquele cheirinho, e, acompanhada ou não dos prazeres matinais (como ler o jornal ou pôr um pão francês no forninho) proporcionar o "huuuuummmm, delícia!"
São as condições.
Descobri que a vida também é assim.
A minha, ao menos.
Assim, um coador de pano.
Simples e tradicional. Com um gosto de roça que não dá muito pra decodificar de onde vem. Com um quê de classe que nasce exatamente da simplicidade. Com um gostinho que é único e que talvez só eu mesma perceba.
Mas requer cuidados.
Muitos.
Cautela, observação e organização.
Senão mofa.
E mofando, rasga, estraga, desfaz.
Aí, só pegando um novo e começado do zero. Desde o primeiro passo, que virá como o coador branquinho, com o gosto básico do não-referência ao passado, até começar a pegar aquele toquezinho especial...
Hoje, depois de dias, passei café.
E o coador já está lavado, secando ao ar fresco. E o melhor: Esse já está antigo. Mas ainda não rasgou.
5 comentários:
legal. mesmo.
faz todo sentido.
que lindo aqui.
quanta poesia!
super beijo
www.contosdefadas.nafoto.net
O cuidar do que dá bons sabores... lindas tanto sempre suas metáforas...
é por isso que amo ser tua amiga. vc é unica mesmo. e linda!
Estou lendo esse texto depois da aposentadoria do seu coador...
Queria ter lido ele antes, mesmo porque, foi escrito no dia do meu aniversario. É bobo, mas ser escrito no dia do meu aniversario dá uma especialidade egocêntrica em relação aos meus olhos, em relação ao seu texto. Confuso explicar o meu egocentrismo. Como tinha dito, queria ter lido antes.
Mas não conhecia essa outra perte de ti... estou conhecendo por acaso, pelo Gui. Enfim.
Sobre o texto, sobre o coador.
É de novo bonito.
Bonito e simples.
Imagino o seu cuidado diário com esse objeto intímo. O perceber da mudança de tom, do branco ao encardido. Do novo, para o cheio de lembranças. Dá vontade de ter um coador. De tomar café todos os dias. De passar pelo mesmos furos, do mesmo pano na mesma cozinha.
De criar vinculos, de impreguinar.
Uma pena ter que aposentar o velho coador. Começar tudo de novo, dá uma dor no coração de quem lê.
As vezes, não compreendo esse tal prazo de validade... =[
beijo
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