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sábado, 24 de julho de 2010

Um Menino, A Rua E A Barbárie

odeio rotular as pessoas. que, no fundo, acho que ninguém é apenas aquilo que aparenta. que, sinceramente, penso ser restritivo demais, não se pode julgar o um pela média de ação do todo. mas às vezes o mundo grita em clichês, as pessoas assumem ser e agir conforme o estereótipo, negando toda a minha teoria de individualização.
o playboyzinho pitbull morador da barra da tijuca que bate pega no carrão do papai. o policial corrupto de pouca instrução que pede 10 mil reais para encobrir um crime e se fazer de surdo, cego e louco.
tudo aquilo que estamos todos carecas de saber, toda essa repetição que parece balela e nem mobiliza mais palavra nenhuma, escrito nenhum, todo mundo já sabe. mas se torna evidente quando a situação esbarra (literalmente) num menino que parece até escolhido a dedo para causar interesse e atenção nacional: o caçula, bom menino, inteligente, bonito, tranqüilo e pé no chão. filho de uma mulher que tem fama de transbordar alegria, transbordar amor pelos filhos, ostentar lindamente o cartaz da família unida. irmão de um cara que tem seis mil grandes amigos, que adora e é adorado por todos eles, que torce pelo irmão-menino e nos incentiva, os amigos, a torcer junto. que faz com que nós também nos aproximemos desse menino, aumentando a comoção. mas para fechar a caixinha com carimbo “prestem atenção”, essa mulher, esse irmão, são conhecidos e queridos nacionalmente, o que faz o caso não ser esquecido simplesmente, o que faz a estória se repetir por (por enquanto) cinco dias seguidos na capa do nosso maior jornal. foi preciso acontecer uma reviravolta na vida dessa mulher, foi preciso que essa mulher seja uma celebridade, para que seja mostrado em caps lock tudo aquilo que diariamente fingimos não ver.
e então socialmente, penso: e se fosse um dos outros dois meninos, como acabaria essa estória? ou melhor, em que ponto seria abafada essa estória? ou melhor, teria eu sabido dessa estória?
e então pessoalmente, penso: por trás de tudo há uma mãe. e, como mãe, a única coisa que sei é que deveria ser proibido por lei natural mãe perder filho. que isso vai contra qualquer lógica.
e então humanamente, penso: como é possível que nesse momento, nessa madrugada em que tudo começou, a preocupação do playboyzinho, seu papai e o sr. policial é em apagar as evidências do carro, retirar as provas do local do atropelamento e, certamente, passar no banco pra fazer os devidos “pagamentos”??? alguém por favor grita no ouvido desses três que “as provas do local” é um menino que precisa de atendimento? alguém por favor sacode essas cabeças pra que talvez elas percebam que gente que é gente, quando erra, precisa tentar consertar o erro e se apresentar, ao invés de apagar as provas e tentar sair ileso? alguém, por favor, faça isso. mas de uma próxima vez, posto que agora já não dá mais tempo.
e no meio de mil questões fico sem nenhuma resposta, a não ser a afirmação de que a mente humana vai mal, vai bastante mal. e não sei se há remédio para essa doença, posto que não se trata mais apenas de educação. é uma educação um pouco mais abrangente que não sei onde se aprende nem como se ensina.
a única coisa que as manchetes do jornal me mostram é que, tanto nesse caso, como por exemplo no outro do goleiro (infelizmente do meu time) que não gosto nem de repetir o nome: rico pra mim não é aquele que tem dinheiro. rico pra mim é aquele que teve condição de aprender o básico dessa educação que não se ensina na escola. quem sabe um dia, há de se ensinar.

6 comentários:

Mr. G disse...

lindo desabafo tati!!! bem escrito, coerente e emocionante!!

essa falta de respeito c tudo, desrespeito sem limites, é mesmo o fim!!!

bjs!

Anônimo disse...

Tati passei para conhecer seu blog ele é not°10, show, espetacular desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
Um grande abraço e tudo de bom

Anônimo disse...

Tati meus parabéns pelo blog ótimo trabalho

Rodrigo Rocha disse...

Tati gostei de+ do seu blog muito bom
Abraços

Raoni disse...

Tati,
Concordo com tudo que você falou. E lembro: alguns dias antes do acidente, um menino morreu assistindo aula dentro de um CIEP, depois de um tiroteiro entre PMs e traficantes. Quem chorou por esse menino? Quem se apaixonou por essa história? Quem se identificou com essa mãe?
Todos os dias milhares de pessoas são tratadas como animais nessa cidade e nesse país. A diferença está em quem pode pagar um bom advogado.
No caso da Cissa, os PMs foram presos, o atropelador e o pai estão soltos. No caso do menino do CIEP, NADA aconteceu. No caso do morador do Andaraí que foi alvejado por um policial do BOPE, também não.
Jamais seremos uma nação respeitada enquanto isso acontecer diariamente e as pessoas acharem que essa situação comum.

tati disse...

exatamente, rao. como eu disse:
foi preciso que essa mulher seja uma celebridade, para que seja mostrado em caps lock tudo aquilo que diariamente fingimos não ver...