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o frio que fazia fora ressoava dentro e... seleciona. deleta. essa não sou eu.
o rio que fazia a volta atrás da casa não... seleciona. deleta. esse não é meu.
escreve, pensa. deleta.
escreve, pensa. deleta.
escreve, pensa. deleta.
que antes, naquele antes em que usávamos caderno e lápis, ao menos era necessária alguma força braçal para usar borracha. e, ainda assim, se essa força não fosse lá muito significativa, o escrito ficava ali, numa sombrinha. ficava ali, lembrando, tentando os olhos de que ainda poderia ser lido, caso a mente se esquecesse de esquecer.
e confesso que jamais consegui escrever à caneta, pelo seu poder de eternidade. ou pelo meu pavor de texto rabiscado.
e foi então que o computador, meu temido inimigo na época de excesso de idealismo, surgiu como um querido companheiro guardador de palavras. sem apontador de sujar papel, sem a angustiante última página do caderno e com a tecla delete. que limpa daquele jeito fácil. jeito de recomeço, de caderno novo: seleciona, deleta.
e teclando, tantos rascunhos puderam ser expurgados.
expurgados e apagados.
e sentindo, tantos gritos puderam ser digitados.
e às vezes, muitas vezes apagados.
rascunho passou a fazer parte não mais daquilo que era inacabado.
rascunho agora entrou na lista do que é transitório.
e assim, como quem não quer nada, pode-se sempre recomeçar do zero.
deletar passado, desvencilhar contatos, criar novo perfil, ou novo site.
jogar arquivo na lixeira.
e pra onde será que vai tanto lixo? onde se escondem as palavras?
será que uma vez deletadas não iremos nunca revisitá-las?
nunca alcançaremos a saudade, a memória, a vontade de abrir agenda antiga e re-sentir?
quase sinto esse reflexo hoje em dia.
do mundo de palavras apagáveis.
da sobra de poemas ejetáveis.
e então sozinha eu peço (torço, rezo) pra que toda essa evolução prática da nossa vida escrita
não ecoe dentro, na atitude das pessoas, nenhuma delas.
e então sozinha eu rezo (quero, espero) não deixar passar pro corpo
todo esse mecanismo deletável num clique. num encostar de tecla.
é que na verdade eu temo (tremo, vivo)
todo esse horror pensado, tudo isso
eu temo que hoje, isso
já nos tenha acontecido.
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4 comentários:
como é bom te ler.
LINDÍSSIMO O SEU TEXTO, PEMA QUE ACABE.
NÃO CONHECIA O SEU BLOG.
ACHEI REALMENTE, MUITO INTERESSANTE E TENHA A CERTEZA DE QUE VOLTAREI SEMPRE AQUI.
TAMBÉM, APROVEITO PARA CONVIDAR VOCÊ A CONHECER O MEU BLOG:
“HUMOR EM TEXTO”.
A CRÔNICA DESTA SEMANA É SOBRE UM TEMA POLÊMICO.
SE PUDER, CONFIRA E SE QUISER COMENTE, POIS LÁ O MAIS IMPORTANTE É O SEU COMENTÁRIO.
UM ABRAÇÃO CARIOCA!
concordo, penso, repenso e re-sinto lendo cada palavra tua.
nenhuma apagável de mim.
b.
Tb amo suas palavras! Fico curioso de ler seus radcunhos!
Confesso q adoro escrever a mãe, a caneta e rabiscar!! ;)
acho q tem uma lado bonito de guardar o original a mão... rabiscar e poder ver a outra cara q o texto podia ter... sei lá...
bj bj
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