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segunda-feira, 15 de março de 2010

Terreno Baldio

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e eis que de repente tudo mudou para sempre.
(pois sempre ouvi que as grandes mudanças eram mesmo de repente)
nenhum preparatório, nenhumas vaselinas. clic.
a diferença é que dessa vez o o clic era interno, não tinha a ver com ele, ou com a estória deles.
foi ela que mudou.
ela agora sabia o que queria e, principalmente, o que não queria mais.
e definitivamente ela queria certa coisa completamente diferente.

a sensação de página virada nunca havia sido concreta e agora podia quase enxergar a literalidade da metáfora. talvez ela saísse correndo ou risse, não fosse o fato de deparar não mais com uma nova página em branco do outro lado, mas com o fim do caderno.
fechou a capa dura e emudeceu.

lhe restava então caminhar com calma, tomando cuidado para não esbarrar numa folha seca que porventura lhe cruzasse o caminho. poderia ser um obstáculo e tanto.
era como olhar o querido apartamento construído com apreço e sair. e trancar a porta. e descer as escadas. e olhar para o alto. e avisar sem remorsos ao senhor da construtora: "pode mandar implodir o prédio."

e a poeira lacrimejou os olhos.
e depois da chuva, poeira baixou.
e ela simplesmente observava o terreno, o entulho, a realidade que quebrara fantasias todas.

mochila nas costas, ela era o essencial.
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depois lembrou que queria ter comemorado com ele seu trabalho novo e ao menos ter feito um brinde, depois viu que esqueceu de apresentar uns detalhes da casa que ele não tinha percebido, depois se deu conta que eles não viajaram juntos nem viveram um décimo do que poderiam ter vivido: um mergulho no mar, uma volta de bicicleta, uma ida ao teatro.

mas esses faziam parte dos sonhos dela. todos dela.
e se eram dela, ninguém jamais, jamais levaria.
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