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aí veio a lei seca. achei bacana, por conta de alguns manés que insistiam em beber todas e se acharem absolutamente capazes de tomar o volante e acelerar até sua percepção abalada sentir a velocidade na cara, parando sanfonados nos postes da cidade, quando não em cima de alguém.
por um lado até funcionou, embora os índices não tenham abaixado tanto no que diz respeito aos acidentes de trânsito e os nossos queridos policiais terem aproveitado a onda para engordar os bolsos nos fins de semana.
aí não pôde mais fumar em lugar fechado. achei bacana por conta de alguns manés que nem olhavam pro lado pra saber se tinha gente comendo e fumavam ainda assim, ou por outros que acendiam seus amigos-de-todas-as-horas na cara de bebês de colo sem nem perceber, ou pelos tantos que faziam saunas nas casas noturnas e sinucas da cidade e até concordei, quando cheguei em casa de uma festa fechada e meus cabelos não fediam a ponto de dar vontade de passar máquina zero e nem foi preciso cinco lavadas com o shampoo mais cheiroso do banheiro para conseguir dormir feliz e cheirosinha, como tanto me apraz.
agora não pode fumar nem em lugar aberto, se for público. e fiquei com a pulga atrás da orelha.
agora vai ser proibido o côco na praia. e fiquei pensante.
é claro que uma das maneiras de educar a desavisada população é restringir, impôr leis e aplicar multas altas pelas infrações, mas será a melhor maneira? se todas as restrições são por conta de uma parcela de manés que dirigem absolutamente bêbados, ou fumam desrespeitosamente, ou deixam seus lixos espalhados pelas praias, o que fazer quando levada em consideração a outra parcela, os não manés, os que possuem ainda alguma educação e civilidade?
a não ser que seja verdade que os côcos verdes não paguem impostos ao governo e as caixinhas de kero côco (fala sério) paguem, e o povo que quer sempre mais dinheiro use o argumento da sujeira espalhada para retirar nossa delícia de lazer calçadão-fim de tarde-água de côco.
a não ser que nosso papai repressor presidente da república ache bonitinho encaixotar o povo com suas devidas etiquetas pensando que assim está educando alguém, simplesmente pelo fato das coisas ficarem aparentemente mais organizadas.
sempre fui a favor da educação pela liberdade.
somente entregando um bebê no colo de uma criança de três anos ela vai se sentir responsável o suficiente para crescer. mas, se ao invés disso, você proibi-la de se aproximar de seu irmãozinho que ainda é neném, não deixá-la nem perto do berço onde o bebezinho dorme, pode ter certeza de que bastará um piscar de olhos para ela ir até lá sozinha e teimar que pode. e, longe dos olhos de quem pode realmente ensinar e de verdade, educar, será uma grande sorte se ela não deixar o pequeno cair no chão.
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4 comentários:
Tati, amorzinho, educar para a liberdade talvez seja diferente de pela liberdade. Ou eu seja apenas retórico.O que é o choque de ordem? É educativo? É desnecessário? É exagerado? E o vestido rosa que é mais discutido do que a agressão torpe? Acho que equiparar as importantes proibições relativas a bebida e fumo com o glorioso côco é fazer o jogo de um discurso à direita (disfarçado de liberal) que quer mesmo é as rédeas do mercado, soltas, fingindo que todos temos opção e partimos de pontos iguais. Bjs do velho professor que não te esquece.
educar para a liberdade seria maravilhoso se vivêssemos numa sociedade em que há um minimo entendimento sobre o que é cidadania . infelizmente para as pessoas aqui no brasil não existe lei. nem pro policial corrupto, nem pro mauricinho irresponsável, nem pra madame, nem pra dona de casa e nem sequer para uma inocente criança. e aí tenho que concordar e bater palmas para quem aceita o desafio de um choque de ordem, tendo que passar por cima de toda uma cultura arraigada. poderiam inventar mil e uma leis para nos tornar mais civilizados... mas concordo com vc: proibir agua de coco na praia é falta do que que fazer! uma pena. acho que estavam indo no caminho certo...
Nelson,
sim, "para" a liberdade é diferente de "pela" e talvez eu também tenha aprendido a ser retórica. E era "pela" mesmo, no sentido de "através dela". A velha máxima de que a liberdade traz responsabilidade. Máxima, aliás, que aprendi com vc e os grandes professores do CEN.
E não estava equiparando um ao outro. Apenas pensando na maneira restritiva de educação e questionando o quanto isso é educativo ou não. Ou será que retirar o côco da praia vai fazer com que as pessoas então caminhem até a lixeira pra jogar fora a caixinha de kero côco?
E não é o caso de fingir que todos temos opção. Mas a simples vontade de que tenham. Ou a opção, ou a tal "educação pela liberdade e responsabilidade". Mas aí a gente entra em outras discussões, que é a mesma das cotas para negros ao invés da melhoria do ensino público, aí a gente pede um chopp e conversa por horas...
bj da (velha!) aluna que nunca esquece a escola que teve.
O que me incomoda muito no Brasil é a forma como os governos agem em relação às pessoas, e como a mesma população se comporta diante das normas do governo. Temos na nossa história, desde a época colonial, um governo autoritário que decide o que deve ser feito e que obriga a população a se enquadrar nas regras, sem a participação da mesma nas decisões. Por outro lado, essa mesma população está acostumada e acomodada, muito também pela repressão social, policial e econômica, a não exigir a sua participação neste processo. Na minha opinião, as pessoas não tem um sentimento de que são donas e devam cuidar do que é público, que fazem parte desse corpo coletivo que deve manter e lutar por uma ordem pública que é comum à convivência de todos, e se acomodam num sentimento paternalista de que o Estado devem cuidar delas mas elas não cuidam do Estado. E isso dá margem para que se tome medidas autoritárias por parte desse Estado, e faz com que a população viva reclamando de tudo, mas sem direcionar sua insatisfação para algo produtivo e coletivo, para um bem comum.
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