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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Mulherzinha ou Menina?

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sempre tentei fugir do rótulo de mulherzinha, achava sinônimo de chatinha, enjoadinha, essas características "inhas" que tanto irritam os homens e algumas de nós também.
sempre fui de ter muitos amigos do sexo oposto, talvez por querer escapar da mulherzinha, talvez por não aguentá-las por muito tempo.
portanto (é claro que convivo com muitas) minhas companhias femininas sempre foram do tipo mulherão (é, meninas, e vocês sabem disso!).
detalhes.
o fato é que de uns tempos pra cá andei reparando que parece que os homens gostam disso! parece que o tempo todo eles nos "pedem" para agir assim! talvez para se sentirem mais fortes, ou mais protetores, sabe-se lá o motivo...
sei que cada vez mais reparo em sorrisinhos discretos frente uma cena de ciúme, respostas imediatas diante de uma pirracinha, satisfações sinceras com uma fragilidade qualquer...
pois bem.
e reparando nisso comecei a ficar mais menina, menos provedora e mais "me deixa em casa?", menos a que sai resolvendo tudo sozinha e mais a que aguarda pra ver se alguém se prontifica, menos a que passa a vez e mais a que entra na frente e agradece...
taí.
o negócio é que, como dizem, se acostumar com o melhor é fácil... quero ver agora pra voltar a ser como antes...
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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Venda em Residência

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assim se chamava o evento. o site muito útil, com fotos e preços dos produtos. muita coisa boa e muito cacareco. preços incríveis.
telefonei e uma vovó ficou horas comigo me explicando mil bobagens. entrei pro cadastro e toda semana recebia, no conforto do meu email, notícias do próximo evento: onde, quando, quais os produtos da vez, fotos, preços incríveis, aquela coisa.
os produtos, no caso, eram móveis de uma casa inteira que se desfazia. seja porque o dono foi morar fora, ou porque foi mesmo pras cucuias... eles só anunciavam objetos mais bacaninhas, com cara de antiguidade ou apenas bacaninhas.
eis que me surge uma estante que eu gostei.
sempre fui de querer armário de madeira branco no banheiro e dessa vez nem precisaaava tanto, mas era bonito, cabia no banheiro, tava barato, gostei.
então o evento era domingo.
e era domingo de manhã.
uma notinha ao pé da página dizia "senhas distribuídas a partir das 9h". cedo pra um domingo, pensei. bom, ou o evento bomba, ou eles são ultra organizados, repensei.

eu tinha um trabalho grande pra fazer no sábado e pensei que seria uma boa trabalhar, depois sair já tarde da noite e emendar na rua até domingo de manhã. estante comprada, dormiria o domingo todo.
mas às seis e meia da manhã de domingo desliguei o computador, ainda sem terminar o trabalho, deixando pra outro dia, pois os miolos começavam a fundir com as pálpebras.
dormi uma horinha e meia e acordei não sei como, animada não sei como, tudo pela estante.
então cheguei às 9h10 num leblon bucólico, um predinho antigo, umas vovós bem apessoadas na porta, um rapaz de chapéu francês a la jules e jim, um pequeno buxixo na calçada. peguei a senha numero 20. nada mal.
em uma hora abriria a casa pra tal venda, tempo pra eu sentar na rio-lisboa e tomar um café duplo pra não dormir em cima da cristaleira da senhorinha.
voltei.
agora a portaria já estava bem mais cheia, pessoas com um o ar mais modesto não escondiam o fato das peças estarem sendo vendidas num preço bastante compatível.
sentei num canto e abri a revista fingindo ler o que já havia lido, tentando catar alguma estória interessante pra contar aqui. mas acabei lendo até paulo coelho, tamanho volume e fala ao mesmo tempo, ninguém se entendia, desisti da estória pra contar.
uma moradora que passou fez uma cara de tão desacostumada com aquilo que resolveu voltar antes de chegar ao portão. a entendi perfeitamente.
então faltavam 3 minutos pra abrir.
a senhorinha que distribuia as senhas organizou a fila na devida ordem e comecei a sentir que as pessoas já se conheciam e se comunicavam numa certa euforia.
subimos de cinco em cinco.
na porta da casa, nova fila.
a ordem da coisa era a seguinte (a senhorinha havia me explicado): você recebe uma bolsa na entrada. coloca os objetos que vai querer levar na bolsa, paga e sai. e os móveis? esses, terão uma etiqueta colorida afixada. você tira a etiqueta e põe junto, na bolsa. ela me disse também onde estava a estante que eu queria, pra que eu não perdesse tempo em pegar logo a etiqueta colorida. achei simpático.

voltando à porta, a fila.
alguns já estavam com suas devidas bolsas nas mãos. eu deixei pra pegar a minha quando entrasse.
e a porta se abriu.
as pessoas estavam bastante animadas, eu sorria enquanto pegava uma bolsa um pouco empurrada por um cidadão que estava atrás de mim, provavelmente o numero 21.
então entendi o processo.
era uma boiada entrando apressada, pior do que cachorro faminto, as velhinhas simpáticas se transformaram em animais de unhas afiadas, uma taça se quebrou, ninguém se importou e eu me assustei.
isso deve ter durado 10 segundos.
como eu sabia onde estava a estante, tracei uma linha reta até ela e só queria pegar minha etiquetinha pra sair correndo daquela loucura, enquanto pessoas (?) se estapeavam.
em cerca de 15 segundos após a abertura da porta eu estava diante da minha estante e (pasmem) ela já estava sem a etiqueta.
tentei observar mais alguns minutos para recolher mais alguma estória surpreendente, mas sinceramente preferi curtir meu dominguinho em paz.

ah, e ao vivo ela nem era tão bonita assim...

mamãe sempre disse que o barato sai caro, mas eu entendia a frase de outra maneira.

ufa.
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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A Incrível Bruna

Na falta de tempo e calma por palavras minhas, seguem as dela.


Carta a J.

Chérie,
Não consegui responder de imediato, sua carta ficou me incomodando. Na verdade eu nem precisaria responder porque não foi endereçada a mim, mas você deixou espalhada então li, foi irresistível.
Nem sei direito se me lembro bem das palavras porque tem sido tantas coisas que... tão inúteis. Eu deveria me lembrar de cor e repetir até esclarecer aqui dentro, mas... tanta perda de tempo. E enquanto isso meu caderno está ali, em branco, dizendo que não sou obrigada a dizer nada: se não sei, posso calar-me. Já há besteiras demais no mundo, agora ainda incessantemente propagandeadas pela internet. As coisas têm feito barulho demais? Isso deve ser o segundo sinal da velhice, precisa ver como minhas pernas doem.
Não tenho entendido as aulas, sei que são discutidos assuntos fabulosos, prendo os olhos no professor a cada vez que pronuncia Matisse, é em vão. Desconfio que falavam na língua do pê ontem só para me provocar, tudo o que consegui fazer foi retirar-me e usar dos limpadores de para-brisas e lenços do porta-luvas para chegar até em casa consciente de que minha presença física ali não evitava minha ausência. Estou completamente exausta, não sei se mais cansada por ser quarta-feira ou por tanta precaução. Arrisco o segundo, sinto-me existencialistamente esgotada e isso é o máximo de beleza que eu enxergaria em algum lugar. O meu caso requer um reprocessamento cerebral.
Já o seu caso, minha querida, ah... As coisas são repetitivas sim, você é que não é. É tão bom deixar pra trás o que já não é mais, recomendo veementemente. Meu único medo em relação a isso é não ter fôlego para convencer os outros, eles lhe parecem muito acomodados onde estão? Vontade que tenho de sacudir pessoas, mas por que desejar a elas o incômodo que me assombra? Felizes os outros, na sala de jantar. Os outros não se tornam, eles sempre foram. O que acontece quando nos tornamos o que queríamos ser? Adoraria culpá-los, gritar com eles, expulsá-los daqui! Seguiria com tudo que joguei em cima deles berrando para o espelho. Se eu fosse burra nem perceberia, droga.
Vi que ele respondeu a sua carta e meu conselho de leitora intrusa é que você dê atenção às palavras dele – poder constatar que não mais ou não agora é um crescimento, não tivesse você vivido até aqui não teria discernimento para apreciar ou rejeitar o que lhe é oferecido, mesmo que tenha sangrentamente lutado por aquilo. Só alcançando somos capazes de não querer mais, sem birra ou ansiedade juvenil.
Calma, em breve voltaremos à mesa lotada. Nos juntaremos ao resto na pista de dança e de longe nem dará pra perceber que não estivemos ali o tempo todo. Por ora ficarei por aqui, estas poucas linhas já me causam dúvidas e só não as amasso porque me ajudaram a localizar o norte de novo. Nós estamos mesmo sozinhos. Eu só queria alguém que dissesse “estou aqui”. E sorrisse.

A tout a l'heure.

Postado por Bruna Demaison em Seu Martin

terça-feira, 13 de outubro de 2009