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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O Palco - Minha Casa

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quando se trabalha como ator é importante e muito saber quem se é de verdade. pois você experimenta muitos outros em você, outros tipos, outros gostos, outros gestos e falas, pensamentos. e é preciso sair com toda propriedade para esse novo ser, do contrário não chega. do contrário fica máscara. fica pela metade.
quando se trabalha como ator é preciso não ter medo de caminhar em trilha escura, sem saber pra onde se vai. gostei muito da imagem que ouvi dizer de joão e maria na floresta colocando o pãozinho na estrada, para não se perder na volta. pois sim. é muito importante conhecer como se retorna. é muito importante, para não se perder.
quando se trabalha como ator é preciso correr, ou caminhar lentamente, sem olhar para trás. e depois ter certeza de como se volta pra casa. é preciso não ter vergonha de experimentar, de tentar. dançar na beira do abismo como quem não se importa com o mundo lá debaixo, mas acha bonito. e a cada dança rebolar de um jeito, a cada passo poder ter um trejeito, a cada novo quem, experimentar um novo ser. então ajuda muito que no dia a dia o ator experimente ser neutro. não é regra, é apenas um passo a menos a se dar a cada construção. apenas não precisar desmoronar um prédio para construir outro, sempre que se for trabalhar. ajuda ao ator poder ser sempre terreno baldio, pronto para qualquer edificação.
quando se trabalha como ator normalmente se pensa muito pouco nisso tudo e normalmente somente se faz, e faz, e faz, e fazendo vai pensando cada vez menos.
por isso é tão importante o caminho de volta. é importante não se perder por aí nem construir prédio sobre prédio, sobre casa, sobre barraco, sobre palácio. respirar. uma coisa de cada vez.

(nunca pensei que fosse tão importante trabalhar como não ator, para esclarecer tanta coisa de quando se trabalha como. e nunca pensei que ser ator pudesse melhorar tanto uma pessoa.)

sigamos.


 

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Pra Ser Feliz Com Chá

era noite, noite fria. tentou sair, mas a coragem foi ali e não voltou. era dia que ele não viria. era aliás dia longe ainda de ele vir. frio aumenta. já começava cedo a cansar em demasia, muito ainda estava por vir e energia teria de se tirar da... do... de onde? teria de se tirar, não importa. o grande evento se aproximava e não era hora para espirros. e ainda mais esse peito manhoso. o tempo da distância dele apenas começava e não era hora para saudades. quase entristeceu. e por que foi? por nada. foi só um vento que passou. recolheu, fez um pastel de forno de maçã com canela para comer com chá, tudo bem, foram dois pastéis, e foi ali, ser feliz pra dentro. 

segunda-feira, 18 de junho de 2012

DEZ


dez dedinhos é a primeira conta que se aprende a fazer na mão, já que toda a turma na sala de aula tem igual. em tese todos temos dez dedinhos embora já se chegue a presidente mesmo sem que seja assim, não vem a ser ponto determinante.

dez por cento. de faltas, é menos do que se podia ter na adolescência, no colégio, e ainda assim parecia pouco. dez por cento de faltas hoje é muito mais do que se pode ter. pois as faltas de gente grande são outras e nós mesmos é que somos os responsáveis por cobrá-las. dez por cento no entanto nem se parece tanto ao se comparar com cem. mas é parte determinante quando se conquista, em cifrões, esse valor além.

nota dez. grau máximo, tudo o que se quer pós desfile de escola de samba: dez, nota dez. na prova, no desfile de miss, no karaokê, no quesito de zero a dez todos querem chegar ao máximo. miss sunshine não conseguiu e era bem mais que dez, mundo injusto, esse nosso. digo, esse, dos filmes.  

a camisa dez atualmente perdeu um bocado a importância, mas já foi símbolo das maiores estrelas futebolísticas do país. dez era camisa de rei. hoje fazem pouco caso, trocam por cifrões em poucos meses, mas essa história é outro papo que não vale a pena entrar agora...

dez foram os ditos que moisés recebeu pra contar pra todo mundo. e não é que todo mundo acreditou? e até hoje? quer dizer, hoje em dia tem gente que nem sabe e nem quer saber. tem os que já não dão mais atenção. tem os que chamam de tábua de lei a madeira chique da mesa de jantar. outros tempos.

e as listinhas que todo mundo quer fazer: top dez melhores músicas, top dez melhores filmes, viagens, livros, discos... quem são os seus top dez?

dez mil anos. é vida longa, muito longa. e há quem diga, em música, já haver vivido lá. ou melhor, ter nascido lá. será? será, raul, será?

e dez meses?

dez meses é mais do que uma gestação humana e é menos do que uma volta inteira da terra em torno do sol. dez meses.  
em dez meses de convivência você já conhece um tanto. e ainda se surpreende. você já sabe agradar. e ainda erra na dose. você está começando. e já caminhou um bocado.
dez meses é também tempo suficiente pra se querer abandonar um plano, desistir de um sonho, enjoar da cara de alguém.  

ou não.

domingo, 13 de maio de 2012

Feliz Ano Novo

eu tratava a realidade como a quem se pode controlar. bobinha. e o ano novo então vem num rompante de vira avesso que te faz pensar e repensar a vida. te coloca novamente sozinha na ilha deserta cercada de um mar de possibilidades. eu sou míope. como saber por onde navegar?

eu desmontei minha montanha de lego e comecei novamente do chão. pecinha por pecinha ando criando um novo formato, novas cores. eu tenho muita dúvida sobre que peça usar. sobre onde colocar. tenho dúvida se é de lego mesmo que eu gosto... eu nem mesmo sei por que isso. estou criando uma nova montanha mas talvez eu mesma a destrua, antes que alguém o faça. será tão grande assim o prazer de estar no comando?

eu sinto saudades, medos, dúvidas, aflições. e faz frio. e a cama voltou a ser grande.

e é engraçado que no mar, no meio de um caixote, o meu corpo permanece leve e respirando tranquilamente. ando conseguindo deixar a maré levar pra onde for... e deixo...
e consigo, por exemplo, olhar para trás e me sentir mais feliz agora. feliz não sei, mais inteira, ao menos. talvez esteja gargalhando menos. mas hoje, logo hoje, chego ao fim do dia e percebo que nem fiquei sentimental.

é isso. depois de tranto tropeço, hoje me sinto mais forte. como se pudesse desviar no meio da queda, amenizando o tombo.

feliz dia das mães.  

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Vida Nova

feliz vida nova para você que esse ano deu uma baita gargalhada. e para você que chorou cântaros.
feliz vida nova para você que foi despedido. e para você que ganhou trabalho novo.
feliz vida nova.
para você que encontrou um amor. e você que se despediu de um outro. feliz vida nova.
para você que realizou um sonho. para você que ainda sonha.
para você que ganhou um filho. para você que perdeu uma avó.
feliz vida nova.
para você que mergulhou no mar. feliz vida nova.
para você que sentou na areia.
para você que foi viajar. para você que meditou em casa. para você que tomou um porre. para você que quis só uma taça. para você que disse eu te amo. para você que escreveu uma carta.
feliz vida nova.
para você que admitiu um erro.
feliz vida nova.
para você que se achava certa.
feliz vida nova.
para você que tremeu de medo. para você que ardeu em coragem.
feliz vida nova.
que um ano é mais um dia. e que um dia tudo muda.
feliz vida nova, que vida é ciclo.
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sábado, 10 de setembro de 2011

Paris I

eu achava que a cidade era a minha cara. ou que eu era a cara da cidade. achava, por puro palpite. eram os filmes que eu achava um charme, as roupas que pareciam lindas, a educaçao que eu via distante, o silencio, a beleza, o preto e branco.
imaginava paris uma cidade em sepia, as vezes em preto e branco.
com trilha sonora de piaf.

entao vi de perto, vi de dentro, vim ate ela.
e descobri que sim, é a cidade mais fotogenica na qual ja estive, linda, linda linda em qualquer canto que voce se enfie, tem uma elegancia a coisa café-plateia a cada esquina, cadeiras todas viradas para ver o mundo passar...

e o mundo passou.
aqui, descobri que nao era bem a cidade que encantava, mas uma epoca, um tempo, aquele observado por mim nos filmes que tanto gostava.
e hoje nao ha mais. nem o silencio, nem a elegancia das roupas, o sepia, passou.
paris tambem globalizou.
tem lixo no metro, tem gente que corre e força a porta na hora que ela acabou de fechar, tem muita gente na rua o tempo todo e a muita gente toda tem uma camera na mao e um sorriso posado, tem transito a beça, muitos pedintes, enfim. cidade grande.

creio que a minha cara... foi um seculo onde nunca estive e nem nunca poderei visitar.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Mulher Moderna x Princesinha do Papai

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confesso que não sei se gosto do resultado alcançado pelas atitudes das nossas queridas e velhas amigas radicais dos sutiãs queimados...
muito fácil, sei, dizer isso sendo hoje mulher que trabalha, trabalha no que gosta, faz suas escolhas e não tem lá que ficar dando satisfação diária ao sair de casa.
tão fácil, sei, quanto dizer como é bela a grama do vizinho sem ser você quem rega e cuida e corta e, e, e.
e é claro que para chegar a qualquer equilíbrio é necessário desequilibrar para o outro lado, a fim de ter a balança no ponto do meio...
mas penso.
teria sido talvez mais fácil continuar tudo como estava.
era coisa estabelecida, tarefas divididas, cartilha conhecida, decorada, sem indagação. você sai para trabalhar, eu fico e cuido da casa e dos filhos. e não era preciso tirar dúvida alguma, ultrapassar limites, era terreno seguro.
antes que me joguem pedras, recorro então aos que já tem a mira em minha direção: me respondam então o que fazer em cada situação que aparece?
pois de minuto em minuto tudo muda e eu não sei mais a quem recorrer, se à mulher maravilha ou à bonequinha indefesa.
que a mulher moderna precisa ser prática, independente, poder sustentar sua casa, sua vida, suas escolhas, sozinha. e ser bem sucedida e subir de cargo pelos valores intelectuais e nunca aceitar que ele pague a conta inteira. e trocar a lâmpada, desparafusar o lustre, matar barata, abrir vidro de palmito, sem fazer cara feia. e à noite subir no salto, caprichar no rímel e sorrir tranquila. e de dia trocar o lixo, guardar as roupas bem dobradas, passar seu próprio café e tudo isso em tempo recorde pois tem hora pra sair para o trabalho...
isso sem falar nas que tem filhos.
lindo, uma antes utopia, hoje realidade. é mulher quem governa o país.
ou seja, nascemos em época que não existe a opção não ser super herói. a mim nunca foi dada outra escolha. aprende e aceita.
porém.
paralelamente a isso, quando se conhece um cara por quem você realmente se interessa, é preciso deixar toda a sabedoria de lado.
é hora de ser menina, lembrar da princesinha do papai que sorri de longe e não aborda, ser frágil e tímida, boba e passiva, pois assim é que se deve ser. assim é que você vai ser respeitada como mulher. não pode ser forte, não pode abrir o vidro que você já está cansada de saber abrir, ser independente é desaforo, não pode. é preciso saber jogar, saber fingir fragilidade.
na boa, colegas feministas do passado:
preferia não ter tido nunca de aprender a ser mais eu.
se eu tivesse nesses trinta e um anos apenas aprendido a ser a princesinha do papai, talvez hoje me desse muito melhor nesses jogos esquisitos em que os amores me colocam.
não gosto, não quero jogar.
se me fossem dadas opções, talvez eu sentasse comportada à espera do companheiro pro baile.
ou simplesmente me despediria, olhos baixos, deixando o salão. tirando o time de campo.
mas essa regra é coisa do passado. é cafona, démodé.
ai, que saudade dos tempos da vovó que eu não vivi...
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