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domingo, 28 de março de 2010

Da Série: "É Hora de Praticar"

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mais exercício físico.
as minhas cenas.
o desapego.
o rigor na dieta.
o canto da voz.
o canto da casa.
o domingão.
o foda-se.
o impor limites.
e o deslimite a mim.
boas noites de sono.
a alegria sóbria.
o foda-se.
os últimos detalhes da decoração.
o cavalete com papel e tinta.
o celular desligado.
o foda-se.
momentos a sós.
momentos no sol.
momentos só.
na bicicleta.
o foda-se.
o inglês.
as burocracias da viagem.
subir no palco sendo, não vendo.
o foda-se.
a garantia daquele trabalho.
andar melhor no salto.
o foda-se.
o ame-se.
o jogue-se.
praticar é praquilo que precisa de empurrãozinho inicial, que depois vira hábito.
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segunda-feira, 15 de março de 2010

Terreno Baldio

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e eis que de repente tudo mudou para sempre.
(pois sempre ouvi que as grandes mudanças eram mesmo de repente)
nenhum preparatório, nenhumas vaselinas. clic.
a diferença é que dessa vez o o clic era interno, não tinha a ver com ele, ou com a estória deles.
foi ela que mudou.
ela agora sabia o que queria e, principalmente, o que não queria mais.
e definitivamente ela queria certa coisa completamente diferente.

a sensação de página virada nunca havia sido concreta e agora podia quase enxergar a literalidade da metáfora. talvez ela saísse correndo ou risse, não fosse o fato de deparar não mais com uma nova página em branco do outro lado, mas com o fim do caderno.
fechou a capa dura e emudeceu.

lhe restava então caminhar com calma, tomando cuidado para não esbarrar numa folha seca que porventura lhe cruzasse o caminho. poderia ser um obstáculo e tanto.
era como olhar o querido apartamento construído com apreço e sair. e trancar a porta. e descer as escadas. e olhar para o alto. e avisar sem remorsos ao senhor da construtora: "pode mandar implodir o prédio."

e a poeira lacrimejou os olhos.
e depois da chuva, poeira baixou.
e ela simplesmente observava o terreno, o entulho, a realidade que quebrara fantasias todas.

mochila nas costas, ela era o essencial.
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depois lembrou que queria ter comemorado com ele seu trabalho novo e ao menos ter feito um brinde, depois viu que esqueceu de apresentar uns detalhes da casa que ele não tinha percebido, depois se deu conta que eles não viajaram juntos nem viveram um décimo do que poderiam ter vivido: um mergulho no mar, uma volta de bicicleta, uma ida ao teatro.

mas esses faziam parte dos sonhos dela. todos dela.
e se eram dela, ninguém jamais, jamais levaria.
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segunda-feira, 8 de março de 2010

Enganar Quem?

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aí eu ia escrever aquele texto suuuper engraçado só pra camuflar que por dentro tá uma 'beleza pura'.
aí não saiu.
aí eu respeitei, sabe?
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quinta-feira, 4 de março de 2010

Prós e Contras

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chovia lá fora.
saí de bota.
o bom da bota é que ela é garantia de pés sequinhos, pra quem sabe da volta pra casa só tardão.
o bom da bota é que chuva vira menos obstáculo e mais refresco contemplativo.
só que.
a chuva não trouxe o frio e bota esquenta à beça.
mas os pés permaneceram secos.
só que.
a bota tinha saltinho e fiquei na ponta o dia inteiro.
mas os pés permaneceram secos.
só que.
eu aparentava bem mais formal do que sou (não eram galochas) e compromissos casuais do dia soaram desencaixados.
mas os pés permaneceram secos.
só que.
sambar de bota é dissonante portanto repensei o descanso mental do final do dia.
mas os pés permaneceram secos.

pensei.
pesei.

na próxima chuva, levo uma toalha.
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