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terça-feira, 15 de julho de 2008

Coisas do Rio de Janeiro

e da letra do paulinho:

Olá, como vai
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem, eu vou indo, correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranqüilo, quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto tempo...
Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios...
Qual, não tem de que
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo, talvez
Nos vejamos, quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto tempo...
Tanto coisa que eu tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer
Mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso
Beber alguma coisa rapidamente
Pra semana...
O sinal...
Eu procuro você...
Vai abrir!!!
Vai abrir!!!
Eu prometo, não esqueço, não esqueço
Por favor, não esqueça
Adeus...
Adeus...


aí li hoje no "banalogias" do francisco bosco (filho de joão - o livro é delícia... analogias das banalidades... tô curtindo)
transcrevo:

"pois para muitos cariocas, que já estão mais do que familiarizados com o diálogo, e talvez sobretudo para os não-cariocas, que constataram perplexos o encaminhamento futuro dessas promessas, essa figura linguística acaba por se configurar como uma situação de constrangimento.
(...)
mas o que faz com que a situação seja experimentada por muitos como constrangedora é justamente o entendimento desse não-dito, dessa promessa que sabemos sem fundos ("te ligo, com certeza"), como sendo uma mentira. fulano disse que ia ligar, mas não ligou: mentira, portanto. pior: fulano assegurou que ia ligar, enfatizou, sublinhou a promessa com todas as inflexões e entonações da convicção. mentira ainda mais grave, gravíssima.
entretanto tudo muda se pensarmos o recalcado do diálogo, o não-dito, não como uma mentira, mas como um modo indireto de verdade. assim, o horizonte em que a promessa passa a ser verdadeira não é mais a sua efetivação posterior, mas o que, dentro dela, vibra afetivamente: "te ligo" passa a significar "gosto de você", "vou ligar com certeza" traduz-se por "gosto muito de você", e assim por diante, a intensidade afetiva aumentando à proporção das entonações e expressões de segurança. fernando pessoa dizia que "a linguagem pode mentir, mas a voz não."
(...)
uma amizade intensa passa de um estado de intimidade diariamente atualizada - conversas frequentes, presença física constante, confissões, vidas em permanente comunicação - para um estado de amizade em que a distância se interpõe e dispersa as trajetórias dos amigos, porém algo da intimidade da outra configuração resiste a essa nova forma e se mantém intenso, incólume à distância. esse "algo da intimidade" se transforma em um afeto constante que, adormecido e escondido pela distância, emerge efusivamente na presença do amigo.
(...)
perde-se a intimidade, já não se sabe tão bem da vida do outro, mas fica, incorruptível, o afeto, que vem à tona nos encontros fortuitos.
(...)
doravante a amizade é isso: o afeto efusivo, a alegria dos encontros fortuitos - que entretanto tenderia a perder a efusão se se tentasse um movimento restaurador. o recalcado do diálogo, o não dito, se forma nesse ponto: é que seria duro demais trazer à tona o núcleo de perda e de impossibilidade que se encontra na formação de um afeto tão positivo, tão efusivamente manifestado. opta-se por escondê-lo, e para tanto faz-se necessário mascará-lo com a promessa da restauração: "vou te ligar". quanto maior a consciência - ou a intuição - da impossibilidade, e de quanta perda ela encerra, maior a necessidade de mascaramento: "vou te ligar, com certeza."
assim, curiosamente, quanto maior a mentira, maior a verdade."




bom, palavras já há muitas por aqui.
outro dia eu faço meus comentários sobre.
mas recomendo o livro. e paulinho da viola, sempre.

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quarta-feira, 2 de julho de 2008

Dois em Um

Canja - Canjica

Ah, se eu-criança soubesse que um dia em casa eu faria as duas, num mesmo dia, e ainda com sorriso de agrado!
Ah, se eu-ela soubesse que esse seria um cardápio escolhido prum jantar / sobremesa de inverno, dentre todas as outras opções, quando não se tem mãe pra pôr à frente o que ela quer que você queira.
Se ela soubesse... certamente enrugaria o nariz num: "eca!"



Coisas da Rua

Era dia de semana e era hora do almoço. Era Botafogo, portanto barulho de buzina e pessoas engravatadas saindo para comer naquele ânimo de "ainda bem, uma pausa". Elas desciam as escadas da Furnas e uma avistou um morador de rua dormindo sobre a calçada, sob um cobertorzinho esfiapado, aproveitando uma frestinha de sol para esquentar.
Uma viu.
- Coitado, como é que consegue dormir com esse barulho todo?
E a outra:
- Que horas você acordou hoje?
- Às cinco e meia.
- Pois é, eu também.

Fiquei ouvindo. Fiquei pensando.

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