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segunda-feira, 31 de março de 2008

O escuro

Quando eu era criança, quase toda noite sentia sede antes de dormir.
Mas a casa já estava toda em silêncio. E as luzes apagadas. E o corredor parecia uma eternidade de escuridão. Eu morria de medo de atravessar.
Mas ia. Sempre.
Respirava fundo e saía correndo até iluminar tudo com a porta aberta da geladeira.
E bebia minha água satisfeita.
Hoje sei o quanto foi bom eu ter encarado aquele corredor escuro quase todas as noites.
E ainda questiono se eu tinha mesmo sede de água.
Ou de adrenalina.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Mundo Doido

- É que eu quero.
- Eu também, mas...
- Vamos?
- Tô ali. Depois eu vou.
- Ahn... então tá bom.
- O que foi?
- Nada. Eu disse que tá bom.
- Eu ouvi esse bom, ruim.
- Tem alguém me chamando...
- Vem cá.
- Já volto.
.
.
.
- Saudade.
- Eu também. Mas do quê, mesmo...?

sexta-feira, 21 de março de 2008

Calma... dê um tempo ao tempo, calma...

Não distribua sua raiva,
deixa o tempo fluir de leve.
Se a dor é grande, transforma.
Não tenta machucar, que se consegue.
e as suas ansiedades,
dê seu jeito de amenizar...
uma terceira pessoa de nada tem a ver com teu passado.
é isso.

domingo, 16 de março de 2008

Coador de Pano.

Sou amante de café. Não mais dos fortes, por questões de estômago. Mas somente o cheirinho já me faz abrir sorriso.

Uma vez fui a um restaurante fofo na serra e depois do almoço pedi um café. "Amigo, que café maravilhoso é esse, próprio? Delícia!" e o garçon: "É pilão." Mas continuou, ao ver minha expressão de "o que mais?": "É que nós coamos no coador de pano."

Isso já tem mais de três anos e desde então adotei o coador de pano na cozinha. Ele guarda um gostinho do café anterior e com isso, a tradicional percepção de que "panela velha é que faz comida boa".

Mas requer cuidados. Não dá pra lavar com sabão. Nem guardá-los próximos, um ao outro. Nem deixá-lo molhado em lugar fechado.

Requer cuidados de manutenção. São as condições, para que eu tenha o prazer de tomar aquele café de manhã, com aquele cheirinho, e, acompanhada ou não dos prazeres matinais (como ler o jornal ou pôr um pão francês no forninho) proporcionar o "huuuuummmm, delícia!"

São as condições.

Descobri que a vida também é assim.

A minha, ao menos.

Assim, um coador de pano.

Simples e tradicional. Com um gosto de roça que não dá muito pra decodificar de onde vem. Com um quê de classe que nasce exatamente da simplicidade. Com um gostinho que é único e que talvez só eu mesma perceba.

Mas requer cuidados.

Muitos.

Cautela, observação e organização.

Senão mofa.

E mofando, rasga, estraga, desfaz.

Aí, só pegando um novo e começado do zero. Desde o primeiro passo, que virá como o coador branquinho, com o gosto básico do não-referência ao passado, até começar a pegar aquele toquezinho especial...

Hoje, depois de dias, passei café.

E o coador já está lavado, secando ao ar fresco. E o melhor: Esse já está antigo. Mas ainda não rasgou.

domingo, 9 de março de 2008

Coisa - Eu.

O vinho que tava na geladeira desde aquele dia ainda tá bom.
Comprei uma pizza brotinho todinha pra mim.
Não páro a pesquisa pessoal de ver os filmes todos da vida que ando atrasada.
Minha casa está cheirosa.
E é minha.
A máquina lava o figurino, enquanto me preparo pra subir pro kinder-cinema.
Passei umas horas a encher geladeira, fazer docinho de dieta pra semana de tpm, decifrar Dostoievsky, tirar uma música pra cantar quando der... assim, essa coisa - eu.
Dessas coisas todas que se dão valor nos dias em que estamos pra nós.
Nos dias em que lamentamos que o outro não esteja ao lado e ao mesmo tempo festejamos o estar inteira.
Tava vazia e resolvi me preencher, deu certo.
Passei aquele perfume, tomei aquele banho.
Pra quem?
Pro meu travesseiro, pra mim.
Dia de dormir sorrindo.
Sozinha e sorrindo.
Amém.

terça-feira, 4 de março de 2008

Jules e Jim

"...as palavras mudam de sentido em diferentes idiomas, pois não têm o mesmo gênero. Em alemão, 'guerra', 'morte', 'lua', são palavras masculinas. Já 'sol' e 'amor' são do sexo feminino. A sol. A amor. 'Vida' é neutro."

"Nosso afeto é novo. Deve repousar como um recém nascido."

Truffaut.